Celebridade
Aconteceu quando tinha 18 anos. Adorava discutir, discordar, argumentar, participar de masturbações mentais, orgias intelectuais e pseudo-intelectuais... e então um dia, durante uma discussão, teve uma cãimbra na língua. Médicos das mais variadas especialidades o examinaram (dentistas, otorrinolaringologistas, cirurgiões plásticos, dermatologistas, ginecologistas!), porém nenhum deles soube dizer o porquê da cãimbra não passar. O fato é que, a partir deste dia, ele passou a andar com sua língua, rija, para fora da boca.
No começo até que foi divertido: comprou uma garrafinha "squeeze" último tipo, cromada e emborrachada para manter a língua úmida, havia uma fila de garotas querendo descobrir "novas sensações", ele virou um cara bastante popular, embora fosse impossível entender o que dizia. Logo foi chamado para entrevistas na TV e em emissoras de rádio. Paparazzis o perseguiam atrás de uma foto que mostrasse a língua em toda a sua exuberância. A vida não podia ser melhor. Isso no primeiro mês.
Após 2 anos, estava visivelmente estafado e deprimido. Achava que seria temporário, mas não. Não tinha sossego. Havia sempre pelo menos 3 fotógrafos em frente à sua casa. Impossível argumentar, eles não entendiam o que dizia mesmo. Já havia trocado o número do telefone tantas vezes que já nem sabia mais qual era. Mas as pessoas continuavam a ligar só para ouvi-lo tentar balbuciar um "alô". As garotas desapareceram, pois correu o boato de que sua língua "não era assim tão rija". Duas vezes invadiram a sua casa, e duas vezes ligou para a polícia: da primeira vez, a atendente achou se tratar de um trote, "e extremamente sem criatividade". Da segunda, um atendente o reconheceu e o colocou no "viva-voz" para que todos os colegas ouvissem seus conhecidos irreconhecíveis murmúrios. Não aguentava mais aquela vida.
E então decidiu.
Comprou um capacete, destes de engenheiro de obras, e numa noite particularmente deprimente, depois de ter desperdiçado quase meia garrafa de whisky pelos cantos da boca, vestiu o capacete e arremeteu contra a parede mais próxima, decepando com os dentes a tão afamada língua.
Sentou no chão, e enquanto o sangue transbordava, chorou de felicidade. Não porque seria deixado em paz. Isto ainda demoraria alguns meses. Não porque voltariam a entendê-lo, pois agora não teria língua nenhuma. Não porque poderia jogar fora a trambolhenta garrafinha. Não porque poderia parar de comer papinha de canudinho.
Chorava pois enfim, após tanto tempo, não iria acordar sobre uma fronha ensopada de baba.
No começo até que foi divertido: comprou uma garrafinha "squeeze" último tipo, cromada e emborrachada para manter a língua úmida, havia uma fila de garotas querendo descobrir "novas sensações", ele virou um cara bastante popular, embora fosse impossível entender o que dizia. Logo foi chamado para entrevistas na TV e em emissoras de rádio. Paparazzis o perseguiam atrás de uma foto que mostrasse a língua em toda a sua exuberância. A vida não podia ser melhor. Isso no primeiro mês.
Após 2 anos, estava visivelmente estafado e deprimido. Achava que seria temporário, mas não. Não tinha sossego. Havia sempre pelo menos 3 fotógrafos em frente à sua casa. Impossível argumentar, eles não entendiam o que dizia mesmo. Já havia trocado o número do telefone tantas vezes que já nem sabia mais qual era. Mas as pessoas continuavam a ligar só para ouvi-lo tentar balbuciar um "alô". As garotas desapareceram, pois correu o boato de que sua língua "não era assim tão rija". Duas vezes invadiram a sua casa, e duas vezes ligou para a polícia: da primeira vez, a atendente achou se tratar de um trote, "e extremamente sem criatividade". Da segunda, um atendente o reconheceu e o colocou no "viva-voz" para que todos os colegas ouvissem seus conhecidos irreconhecíveis murmúrios. Não aguentava mais aquela vida.
E então decidiu.
Comprou um capacete, destes de engenheiro de obras, e numa noite particularmente deprimente, depois de ter desperdiçado quase meia garrafa de whisky pelos cantos da boca, vestiu o capacete e arremeteu contra a parede mais próxima, decepando com os dentes a tão afamada língua.
Sentou no chão, e enquanto o sangue transbordava, chorou de felicidade. Não porque seria deixado em paz. Isto ainda demoraria alguns meses. Não porque voltariam a entendê-lo, pois agora não teria língua nenhuma. Não porque poderia jogar fora a trambolhenta garrafinha. Não porque poderia parar de comer papinha de canudinho.
Chorava pois enfim, após tanto tempo, não iria acordar sobre uma fronha ensopada de baba.
2 Comments:
Hahahaha...ai amor,só vc!!
Não imaginei que aquela caimbrã "de mentirinha" fosse virar um conto...
Criatividade a mil!!!
Amo vc!!!
Beijos
hihi...
isso que da ser inexperiente... fica tendo caimbras por ai!!
mas... sensacional o conto.
paz
b.
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