Tuesday, September 26, 2006

Nostalgia

Já aconteceu com você?

É o seguinte: lá está você, deitado, mergulhado em pensamentos soltos e desconexos. E então começa a tocar uma música. Um pianinho suave, seguido de um pequeno solo, também suave, que agilmente escapa de uma guitarra distorcida.

E pronto, seu estômago se enche de borboletas, seu coração dispara, e você começa a sentir uma saudade louca de um tempo que não passou, em um local que você jamais conheceu, e com uma pessoa que você nunca viu (a não ser em algum sonho perdido e distante...). É angustiante, aflitivo até.
E seus olhos marejam, a primeira e única lágrima escorre por sobre as maçãs do rosto, e você quer desesperadamente encontrar esta época, este lugar e, principalmente, esta pessoa. Mas não sabe nem por onde começar, pois nenhum dos três jamais existiu, apesar de ser praticamente possível sentir o frescor daqueles dias, admirar a vista daquele lugar e amar loucamente aquela pessoa. E esta mistura, nostálgica e sinestésica, te tortura até o limite do suportável, comprime todos os seus órgão internos, te faz querer gritar e sair correndo, largar tudo em busca dessa Passárgada e sua rainha.

E então, somente então, você percebe que não havia música alguma. Nunca houve.

Mas, estranhamente, a melodia não sai de sua cabeça...

Monday, September 25, 2006

Retroceder Nunca, Render-se Jamais

(Originalmente publicado em http://blogrenagem.blogspot.com/, mas aqui apresentado com um final alternativo...)

Ele: Acho que estamos quase lá, né?
Ela: E eu é que sei?
Ele: Como assim? Que eu me lembre, estamos indo para a casa da SUA amiga.
Ela: E que eu me lembre, eu disse para você pegar a entrada 38, lááááá atrás.
Ele: Olha, eu já viajei muito por essas estradas, já estive em Ilhabela várias vezes, e nunca tive que pegar nenhuma entrada 38 pra chegar lá.
Ela: Tá, então faz o seu caminho.
Ele: Amor, não precisa se irritar, estamos aqui pra curtir um fim-de-semana romântico, só nós dois, naquela casa linda à beira-mar...
Ela: Eu não tô irritada.
Ele: Ta sim.
Ela: Não tô! Que saco!
Ele: Viu?
Ela: ...
Ele: Tá bom, tá bom. Mas sério, tenho quase certeza que a gente tá chegando. Vou até abrir a janela pra você sentir a brisa do...
Ela: Fecha, fecha!!! Droga, meu cabelo! Por que você tinha que abrir essa droga de janela?!?!
Ele: Eu já disse, pra você sentir a brisa de Ilhabela...
Ela: Que Ilhabela?
Ele: Como assim? Já estamos em Ilhabela!
Ela: Já estamos em Ilhabela?
Ele: Tenho certeza!
Ela: Engraçado...
Ele: O que foi?
Ela: Eu podia jurar que a gente precisava usar uma balsa pra chegar em Ilhabela...
Ele: Será? Acho que não, na verdade...
Ela: É CLARO QUE PRECISAMOS DA BALSA!!!
Ele: Calma aí! Muita calma nessa hora! Há quanto tempo você não vai pra Ilhabela?
Ela: Sei lá, 6 meses, eu acho.
Ele: Pois é, sabe em quanto tempo é possível construir uma ponte?
Ela: Eu não to acreditando! Você não tá falando sério...
Ele: É possível, oras! Você não viu aquela ponte na Marginal? Acho que não levou nem 3 meses.
Ela: Chega. Vamos parar e perguntar onde estamos!
Ele: Pra quê?
Ela: PRA QUÊ?!?!
Ele: Olha, eu tenho uma técnica infalível pra saber onde estamos.
Ela: É?
Ele: Procura uma imobiliária.
Ela: ???
Ele: As imobiliárias do litoral sempre têm o nome da praia no próprio nome. Tipo “Imobiliária Maresias”, ou “Imobiliária Pitangueiras”.
Ela: Essa é a sua técnica infalível?
Ele: Procura aí a imobiliária. Você olha do seu lado, que eu olho do meu.
Ela: Dai-me paciência, senhor...
Ele: E aí?
Ela: Peraí, tem uma ali... Imobiliária Itamambuca...
Ele: Itamambuca não é aquela praia logo antes da praia onde fica a sua amiga?
Ela: Você quer parar? Nós não estamos em Ilhabela!!!
Ele: Eu tenho quase certeza que é Itamambuca...
Ela: Nós não vimos nenhuma BALSA!!!!
Ele: Olha, tem outra imobiliária ali...
Ela: Imobiliária... Ubatuba! Imobiliária Ubatuba!!!!
Ele: ...
Ela: E agora, hein?
Ele: ...
Ela: Ficou sem palavras né? Admite agora que errou o caminho?
Ele: Eu estava pensando...
Ela: Sim?
Ele: Por que alguém chama uma imobiliária que fica em Ilhabela de “Imobiliária Ubatuba”?
Ela: Ah, se mata, vai!
Ele: Tá bom.
Ela: Espera, o quê? Põe o cinto de novo! Não abre a porta, espera, o volante, não larg...