A pequena garota era extremamente corajosa. Adorava se pendurar nos brinquedos do parquinho, ficar de pé no gira-gira, ficar de cabeça para baixo no balanço, descer o escorregador correndo. E quando caía no chão, se levantava rapidamente e erguia os braços falando "tchan-tchan!".
Ela tinha um irmão, também pequeno, porém muito mais quieto, bem mais calmo e ponderado, mas que no fundo queria ser ágil e valente como a irmã. Ambos moravam em um simpático apartamento com a avó.
Um dia, num rasgo de bravura, o pequeno garoto disse à irmã: "vamos no parquinho". E lá foram eles. Enquanto ela ia correndo, sorridente, ele mal conseguia ficar em pé, suava frio, a barriga doía, tinha medo. Mas havia decidido: iria provar que também conseguia fazer todos aqueles malabarismos.
Logo que chegaram, lá foi ela para o escorregador enquanto ele encarava aquele que com certeza era o maior desafio daquele assustador e perigoso local de diversão: o balanço. A idéia de ver o mundo do avesso, pendurado com o pés para cima, o amedrontava e o atraía em igual intensidade. Caminhou lentamente em direção ao brinquedo. Ofegava. Suava. Ouvia batidas fortes, que não sabia dizer se era o seu pequeno coração ou os passos da irmã correndo escorregador abaixo. Parou em frente àquele banquinho com correntes, e lá ficou por alguns segundos, em parte por respeito e temor, em parte por não saber direito como começar.
Por fim decidiu onde colocar o pé para iniciar a histórica escalada, e passado alguns instantes, com a cabeça virada para baixo e pés firmemente presos, gritava triunfante: "eu não consigo descer! Aaaahhh!". Antes que a primeira lágrima dele tocasse o chão, lá estava a irmã, subindo no balanço ao lado com uma agilidade que faria Charles Darwin gritar "EU NÃO DISSE???". Rapidamente, conseguiu segurar o braço de seu irmão, e com uma força descomunal para uma garota de 4 anos, conseguiu fazer com que ele alcançasse a corrente. Entre lágrimas, o garoto então balbuciou: "E agora, o que eu faço?". A garota, se equilibrando somente em uma perna sobre uma balança que teimava em balançar, alcançou os cabelos do irmão e puxou. "Levanta a cabeça!", ela gritou. E então, de alguma forma rápida e atabalhoada, o garoto subiu e a garota... caiu.
O choro histérico da menina, deitada no chão com a cabeça sangrando, rapidamente atraiu o porteiro, o zelador, o síndico e a vó. O garoto, ainda sentado no balanço, tentava explicar o que havia acontecido, embora o fato de querer esconder o próprio fiasco atrapalhasse bastante o entendimento da história.
A pequena garota foi para o pronto-socorro, passou por exames de tomografia, e recebeu 4 pontos na cabeça, mas nada além disso, "graças a Deus". O pior, mesmo, foi ter ficado de castigo por um mês sem TV e sem parquinho por ter inventado de fazer "essas brincadeiras de menino".